Atualizado em 06 Nov 2020

Um guia para profissionais de marketing se tornarem orientados por dados

Um guia para profissionais de marketing se tornarem orientados por dados

Um guia para profissionais de marketing se tornarem orientados por dados

Se você trabalha em uma área de marketing, provavelmente já percebeu a importância que os dados têm no dia a dia da área. Hoje é praticamente impossível gerenciar um projeto de marketing sem um acompanhamento muito próximo dos dados gerados para analisar e mensurar resultados para tomar decisões mais rápidas e assertivas. Nos meus anos de experiência trabalhando diretamente dentro ou como fornecedor de áreas de marketing, pude perceber que existe um nível de maturidade de dados destas áreas, sendo que classifico as empresas por este nível de maturidade em 3 grupos.

Maturidade baixa ou muito baixa:

  • A grande maioria das empresas que conheço está neste nível de maturidade, ou seja, os analistas e gestores são extremamente dependentes de outras áreas da empresa como TI e BI, ou de fornecedores externos como agencias de performance ou consultorias.

Maturidade média:

  • Estas empresas já possuem profissionais dedicados a análise de dados dentro da área de marketing.
  • Eu já fui este profissional, e o problema aqui é que ele se torna o gargalo da área e não consegue atender todas as demandas em tempo hábil.

Maturidade alta:

  • Além de profissionais de dados dedicados. Os profissionais e gestores de marketing tem ferramentas e principalmente capacitação para consultar, analisar e tomar decisões baseadas em dados de forma autônoma e rápida.

É óbvio que não estou falando aqui que o profissional de marketing substitui o cientista de dados ou analista de BI. Ele apenas tem independência para fazer análises mais simples e rápidas deixando o trabalho realmente complexo para estes profissionais de dados.

As possibilidades de análises que profissionais de marketing podem de forma autônoma para agilizar seu dia a dia e gerar melhores resultados são infinitas.

Aqui vão alguns exemplos:

  • Avaliar resultados de campanhas, seja de mídia, email marketing e até campanhas offline.
  • Comparar resultados de testes A/B com precisão.
  • Avaliar mapas de calor de usabilidade de sites.
  • Interpretar resultados de pesquisas.
  • Interpretar métricas do google analytics.
  • Avaliar resultados de eventos.
  • Análises de Funil.

E o que provavelmente os profissionais de marketing não irão fazer no dia a dia.

  1. Análises estatísticas mais aprofundadas.
  2. Dashboards complexos de acompanhamento recorrente como acompanhamento de metas da área por exemplo.

Agora que já temos um contexto sobre dados e áreas de marketing, deixo aqui uma pergunta para reflexão.

Em qual nível de maturidade a sua empresa se encaixa? E mais, em qual nível de maturidade, você como profissional de marketing se encaixa?

Após essa reflexão vamos detalhar um pouco mais sobre como evoluir neste nível de maturidade.

O que é o ciclo de análise de dados?

Em primeiro lugar é preciso ter consciência que analisar dados é muito mais do que olhar para um Dashboard e chegar a alguma conclusão, como provavelmente você já fez olhando alguns números no Google Analytics.

Existem várias interpretações para o termo análise de dados, algumas fontes dizem que é a simples tarefa de organizar um conjunto de dados em forma de informação com o objetivo responder alguma pergunta ou hipótese. Na minha visão, o problema dessa abordagem mais simplista é que ela raramente gera valor. É pouco provável que você já tenha em mãos todos os dados para responder a um problema de negócio. Por isso prefiro a abordagem Lean Analytics (Link para o livro no final), que é mais focada em testar hipóteses que não podem ser respondidas com dados.

Disclaimer: O livro e metodologia Lean Analytics foram desenvolvidos com foco em startups e empreendedorismo, mas na minha experiência o aprendizado é extremamente válido em marketing independente do tipo de empresa.

Antes de entrar em termos práticos precisamos falar sobre 4 pontos importantes que devem ser considerados em qualquer análise:

1. Viés Cognitivo

Viés é uma tendência a apresentar ou possuir uma perspectiva parcial em detrimento de outras alternativas. ¹

  • Absolutamente todas as pessoas já “enviesaram” alguma análise de dados, porque é muito mais fácil chegar a alguma conclusão que você esperava (Vies de Confirmação), ou fazer alguma análise com dados incompletos sem perceber (Vies de Seleção)
  • Existem dezenas de tipos de vieses, para não estender ainda mais este texto, vou falar sobre viés em análises de dados de marketing em outro texto aqui no Medium.

Algumas formas de evitar o viés cognitivo:

  • Uma forma de evitar vieses passa pelo autoconhecimento, você precisa conhecer os seus vieses e estar sempre atento as suas conclusões.
  • Você pode pedir a opinião de um colega que tem opiniões divergentes das suas para evitar o vies de confirmação por exemplo.
  • O contexto dos dados e do negócio são extremamente importantes no combate ao viés e por isso vou falar mais detalhadamente dele abaixo.

2. Contexto

  • Além de evitar o viés os contextos são extremamente importantes no processo de análise como um todo:

O contexto de negócio

  • Provavelmente você busca uma análise de dados por um demanda do negócio, seja, vender mais ou ter mais eficiência. E conhecer as intimidades deste negócio é essencial para entender os dados sobre a perspectiva do negócio como um todo.

O contexto dos dados

Por muitas vezes um informação deixa de entrar para uma análise porque o analista não tinha conhecimento dos dados.

  • Saber o ciclo de vida do dado vai garantir que você sabe suas origens, como foi coletado e como foi transformado até chegar até você, isso te ajuda a ter domínio sobre estas informações e vai tornar a sua análise mais segura, mais eficiente e provavelmente mais completa.
  • Existem diversas ferramentas que podem ser úteis nesta etapa do processo, vamos falar sobre elas mais a frente no texto e mais detalhadamente em textos futuros.

3. Dedução e Indução

São formas de inferência comumente utilizadas em análises, afinal é impossível ter 100% dos dados necessários, premissas e observações são necessárias para termos mais eficiência nas análises.

  • Na dedução assumimos premissas gerais sobre o negócio com objetivo de preencher lacunas que não podem ser avaliadas com dados no momento.
  • Na indução, partimos da observação de casos particulares para assumir uma verdade para o todo.

Não há problema em fazer deduções ou induções durante uma análise, elas são métodos excelentes para cortar caminhos nas análises mais rápidas, porém precisamos ter alguns cuidados:

  1. É de extrema importância que estas premissas ou observações estejam documentadas. O risco de virarem verdades absolutas no final de um ciclo analitico é muito grande.
  2. Sempre analisar o resultado final junto com as premissas e observações em mãos, afinal, se elas se tornarem falsas, provavelmente toda a análise perderá sua validade.

4. Causa e Correlação

  • Este é um dos problemas mais comuns que ja vi em análises de marketing.
  • Correlação não implica em causalidade, ou seja, o fato de dois indicadores terem correlação, não diz nada sobre a causa deste efeitos nos indicadores, acho que com exemplos fica mais fácil explicar:
  • Você pode ver um gráfico com a receita da empresa Vs o Nº de curtidas em redes sociais e ver uma relação forte entre os dois indicadores, ou seja, quando um sobe o outro também sobe no mesmo ritmo, ou seja, há um correlação entre os indicadores, um olhar leigo/enviesado com certeza tentaria implicar uma causa entre eles, mas é impossível afirmar que o número de curtidas em redes sociais causou o aumento de receita da empresa somente com estes dados.
  • A explicação fica ainda mais fácil com exemplos reais porém absurdos como representado na imagem a seguir:

https://tylervigen.com/view_correlation?id=28592

https://tylervigen.com/view_correlation?id=28592

  • Aqui vemos que o número de advogados em porto rico é extremamente correlacionado com o número de pessoas que morreram ao cair da cama. Acho que não preciso nem falar de causalidade aqui, né?
  • Antes de cair nessa armadilha novamente, lembre-se destes casos absurdos. O site spurious correlations tem milhares de exemplos.
  • É extremamente difícil de provar causalidade, mas também é extremamente valioso quando revelado, por isso é super importante dedicar nosso experimentos a identificar causas e não correlações.

Metodologia

Como falei antes, existem metodologias podem ajudar a tornar este processo muito eficiente. Algumas destas metodologias nasceram no mundo do empreendedorismo e tem como característica um processo cíclico que gira em torno da Experimentação.

Ao invés de fazer um longo resumo de alguma destas metodologias aqui, vou tentar expressar uma linha pensamento analítico bastante comum entre as metodologias modernas.

1. Primeiro vem o problema de negócio.

  • Sempre tem um porquê, que sempre está relacionado com o contexto do negócio.
  • Exemplo: Precisamos potencializar o projeto X, vender mais através do canal Y, reduzir a evasão do produto Y.

2. Depois a primeira análise.

  • Com os dados/informações que tem em mãos o analista vai fazer um panorama e desenvolver hipóteses.
  • O Objetivo dessa fase é demonstrar um panorama dos dados que ja temos sobre este desafio de negócio.

3. Ai vem as hipóteses, a famosa chuva de ideias.

  • Aqui é momento de soltar a criatividade e pensar em hipóteses que respondem estes desafios.
  • Também entra nessa fase refinar ou refutar as hipóteses com os dados atuais até chegarmos em 1 algumas que fazem sentido serem testadas.

4. Depois a experimentação.

  • Hora de testar as nossas hipóteses com os meios que temos.
  • O maior ponto de atenção aqui é sabermos quais dados vamos coletar e qual será a métrica que vamos utilizar para medir o resultado do experimento.

5. E por ultimo a ação.

  • Se o nosso experimento deu certo, é hora de escalar e medir o resultado ao longo do tempo.

 

Criei um cenário fictício para termos um exercício mais prático:

  1. Precisamos vender mais através do canal Email Marketing.

2. Analisamos os dados que temos sobre o canal Email Marketing, produtos mais vendidos, horários que mais vendem, campanhas que mais vendem e etc.

  • Uma das análises nos mostra que o produto A é o que mais vende via Email, mas o produto B é que tem melhor conversão.

3. Quais hipóteses podemos desenvolver com estes dados?

  • Estimular as vendas do produto A e/ou B pode aumentar as vendas do canal Y?
  • Quais perguntas podemos fazer para validar ou refutar essa hipótese?
  • A comparação entre os produtos é justa? Será que o produto A vende mais porque é mais visualizado no canal? e o produto B, a conversão é boa, mas o volume de vendas é relevante?
  • Após estressar essa e outras hipóteses vamos chegar em uma ou mais que valem a pena serem testadas:

Uma vitrine com um mix dos produtos com mais vendas e com mais conversões da semana anterior vai estimular as vendas.

4. Como podemos experimentar essa hipótese rapidamente e descobrir se a vitrine vai ajudar a aumentar as vendas no Email Marketing?

  • Teste AB é uma possibilidade, podemos fazer um disparo por email para validar nossa hipótese.
  • Precisamos realizar o teste correto para garantir o sucesso do experimento, ou seja:
  • Precisamos enviar um email com a vitrine e outro sem a vitrine para bases similares, com mesmo volume e mesma distribuição das principais variáveis.
  • Além disso estas bases precisam representar a população que potencialmente será impactada pela vitrine.
  • Disparo do email realizado, passados 3 dias, vamos comparar os resultados, a diferença de taxa de conversão de conversão e ticket médio precisa ser maior que a margem de erro, que é estimada durante a amostragem, ou pode ser calculada com base no tamanho da amostra.
  • Aqui tem dois sites que explicam melhor ajudam a calcular o tamanho da amostra e margem de erro. surveymonkey e opinionbox.

5. Se o resultado for satisfatório podemos escalar nosso experimento para toda a população e acompanhar a performance ao longo do tempo.

Lembre-se 1:

Este processo é um ciclo e seus resultados não são válidos para sempre, portanto você precisa acompanhar a performance e executar novos experimentos sempre que necessário.

Lembre-se 2:

“Errors using inadequate data are much less than those using no data at all.” — Charles Babbage, mathematician, engineer, inventor, and philosopher.

Lembre-se 3:

“In the spirit of science, there really is no such thing as a ‘failed experiment.’ Any test that yields valid data is a valid test.” — Adam Savage, creator of MythBusters.

Disclaimer: É um trabalho difícil garantir que duas base são estatisticamente iguais, se tivermos um estatístico ou cientista de dados a disposição essa é a hora de solicitar apoio para fazer amostragem, mas tudo bem se não tiver, faça o melhor com o que tiver.

No começo, provavelmente vão faltar pré-requisitos para seguir esse ciclo. Alguns destes pre-requisitos são:

Coleta de dados adequada.

  • Quando um dado deixa é coletado erroneamente ou deixa de ser coletado, não ha muito o que fazer a não ser corrigir e esperar novas coletas.

Meios de análise.

  • Existem centenas de opções, muitas inclusive gratuitas, do tableau ao excel. Com certeza você tem alguma em mãos, pode não ser a melhor mas é suficiente.

Meios de teste das hipóteses.

  • Email Marketing, personalização de sites, teste AB de mídia são algumas ferramentas que você pode utilizar em seus experimentos.

E principalmente tempo entre o problema de negócio e a tomada de decisão.

  • Uma vez que os resultados dos primeiros testes chegam com certeza a empresa vai valorizar o esforço e tempo entre o problema e tomada de decisão.

O lado técnico da análise de dados

Apesar do termo técnico aqui, existem muitas ferramentas que são desenvolvidas para profissionais sem formação técnica, ou seja, possuem usabilidade muito simplificada e não dependem de conhecimento prévio de tecnologias como SQL ou codificação por exemplo.

Se eu for falar sobre todas as ferramentas que ajudam no dia a dia da análise de dados estaria escrevendo um livro.

Vou separar alguns exemplos em duas categorias:

  1. Ferramentas que provém análise de dados capturados ou armazenados por elas mesmas. Estas ferramentas geralmente tem relatórios prontos e simplificam bastante a vida do analista, mas a dificuldade pode aumentar ou não ser suficiente quando queremos algo mais específico. Exemplos:
  • Google Analytics.
  • HotJar.
  • CRMs.

2. Ferramentas que permitem análises com dados de diversas origens. Por serem mais genéricas, vão possibilitar análises mais complexas, porém você vai precisar se esforçar um pouco mais pra aprender.

  1. Google Data Studio
  2. Tableau

Existem inúmeros tutoriais e cursos que vão te ajudar na sua jornada com essa ferramentas.

Conclusão

A transição para o Marketing orientado por dados é inevitável, a dica é correr atrás, estudar muito e se destacar guiando a sua empresa nessa jornada.

Autor Thalles Meirelles CTO da Maio

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